Brasil: Bloco da Esquerda Socialista emite declaração
Mais de 200 pessoas participaram do seminário promovido pelo Bloco de
Esquerda Socialista (BES), dias 12 e 13 de agosto em S. Paulo. O seu tema foi
"A crise política brasileira e a reorganização da
esquerda".
A abertura dos trabalhos coube a Plínio de Arruda
Sampaio Filho e Mauro Iasi.
O seminário do BES ampliou os laços de unidade e confiança
entre as organizações componentes e reforçou-os com a
incorporação de novas organizações. Edmilson Costa,
da coordenação do BES, precisou que é um instrumento
unitário de luta da esquerda socialista para nortear a luta por
transformações sociais e políticas.
Note-se que a polícia paulista tentou intimidar os organizadores do
seminário indo à secretaria do Sindicato dos
Previdenciários de S. Paulo, onde se realizava, com a pretensão
de saber o tema e os objetivos do mesmo.
Declaração do seminário do BES São Paulo:
Fora Temer!
Construir a Greve Geral em defesa dos direitos dos trabalhadores!
O povo deve decidir e construir uma saída pela esquerda!
Unir a esquerda socialista!
O Bloco da Esquerda Socialista (BES) vêm construindo com inúmeras
organizações, movimentos, militantes independentes, a partir da
Carta de São Paulo, aprovada no Ato/debate de 19 de maio, um processo
amplo e plural de unidade política para a organização, o
debate e ação. Cruzando as fronteiras formais das legendas
partidárias, o movimento busca aprofundar a discussão com o
objetivo de consolidar os pontos de unidade política entre as
várias organizações que compõem o BES.
O Seminário realizado nos dias de 12 e 13 de agosto é o resultado
dessa experiência e coloca nosso processo organizativo em um patamar
superior. Fortalecemos nossos laços de unidade e confiança e nos
abrimos para novos setores da esquerda socialista brasileira na luta contra as
classes dominantes e por uma consistente alternativa à fracassada
política de conciliação de classes representada pelo
lulismo e o PT.
O que nos moveu desde o início e nos move até hoje é a
disposição firme e clara de resistir aos ataques contra os
interesses da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres, LGBTs, negros,
negras e indígenas em meio à gravíssima crise do
capitalismo no Brasil e no mundo. Identificamos no processo de impeachment uma
manobra antidemocrática da classe dominante visando exclusivamente criar
condições melhores do que as existentes durante o governo Dilma
para aprofundar a ofensiva contra os direitos e garantias dos trabalhadores e
pensionistas.
Dilma e Lula, mantendo uma ilusória política de
conciliação de classes, tentaram evitar o desfecho do impeachment
apostando ainda mais na conciliação com uma classe dominante que
já não queria mais acordos ou meios termos. Essa burguesia optou
pelo governo Temer e sua base corrupta e elitista no Congresso visando impor
aos trabalhadores e ao povo pobre e oprimido um conjunto de contrarreformas e
ataques que afetarão de forma cruel as atuais e futuras
gerações.
A defesa de um retorno de Dilma para cumprir seu mandato não tem
força para mobilizar os trabalhadores, afinal foram os trabalhadores os
mais prejudicados com os ajustes promovidos pela própria presidenta. A
aposta nas eleições de 2018, como vem ensaiando o Partido dos
Trabalhadores, com a possibilidade de retorno do lulismo ao poder depois que
Temer já tiver feito o trabalho sujo, beira uma traição
à luta pelo Fora Temer e em defesa dos direitos dos
trabalhadores. Além de inaceitável para quem luta agora contra os
ataques de Temer, essa estratégia é uma receita acabada para a
derrota. Se formos derrotados agora, o cenário de 2018 poderá ser
ainda mais difícil.
O governo usurpador já anunciou os seus ataques, entre os quais ganham
destaque a contrarreforma da previdência e a fixação de uma
idade mínima para a aposentadoria; a contrarreforma trabalhista com a
perda de direitos e as terceirizações; e a contrarreforma fiscal
(PEC 241) que corta ainda mais profundamente os gastos públicos
até mesmo nos setores de educação e saúde, medidas
exigidas pelo grande capital e que servem para punir terrivelmente os
trabalhadores por uma crise que eles não geraram. Além disso,
aprofunda-se a política de privatizações, em especial em
setores estratégicos como no caso do pré-sal e da
Petrobrás. A repressão e criminalização dos
movimentos sociais também ganham força com a lei antiterrorismo e
a postura truculenta e autoritária do novo governo ilegítimo.
É necessário registrar ainda que esse governo ilegítimo
está buscando aprovar um projeto autoritário e
discriminatório para a educação, a Escola com
Mordaça, ridiculamente denominado Escola Sem Partido, cujo objetivo
é implantar o obscurantismo nas escolas e universidades e impedir a
formação crítica e democrática da juventude. A sua
política de segurança busca não só restringir as
liberdades democráticas, mas ampliar o extermínio da
população pobre, negra e periférica, a repressão e
o assassinato de índios e trabalhadores rurais pelo Brasil afora. A isso
se junta uma reforma política que visa cercear a
participação democrática das organizações de
esquerda.
Em São Paulo a situação não é diferente:
há mais de 20 anos o PSDB dirige o Estado de maneira truculenta e
conservadora, privilegiando os ricos e poderosos, criminalizando os movimentos
sociais, privatizando os equipamentos públicos e perseguindo os
trabalhadores e movimentos sociais. O governo vem privatizando direta ou
indiretamente o metrô, a Sabesp, os serviços de saúde e
perseguindo os funcionários públicos, especialmente os
professores e trabalhadores da saúde, na sua justa luta por melhores
condições de vida e trabalho. A polícia de São
Paulo é uma das mais truculentas do Brasil e linha de frente da
criminalização dos movimentos sociais. Várias
ocupações e diversas manifestações foram e
são duramente reprimidas. O extermínio da juventude negra e pobre
nas periferias é uma terrível realidade.
A luta de nosso povo contra o governo ilegítimo e usurpador de Temer tem
sido intensa. Três meses depois do afastamento de Dilma o que vemos nas
manifestações de rua, nos estádios de futebol, nas
apresentações artísticas e agora mesmo nas
manifestações durante as olimpíadas é uma enorme
energia e disposição de luta, envolvendo a juventude, as
mulheres, os trabalhadores e trabalhadoras. Portanto, este é o momento
de unidade da esquerda socialista para canalizarmos essa imensa energia
buscando uma saída no interesse dos trabalhadores e da juventude, que se
diferencie da política de conciliação de classes e da
ofensiva da direita.
Nosso posicionamento desde o início se pautou pela necessidade da
unidade de ação com todos e todas que se colocam contra o governo
usurpador de Michel Temer e sua política antipopular. Trata-se de uma
questão vital para a classe trabalhadora e o mínimo que se pode
exigir é a unidade de todas as organizações sindicais e
populares nessa luta. Defendemos um processo de lutas nas várias
categorias de trabalhadores, cujo desfecho deverá ser a
convocação de uma greve geral, a mais unificada possível,
contra esses ataques e na busca de uma alternativa dos trabalhadores.
Queremos ressaltar ainda que em nenhum momento deveremos depositar nossas
esperanças de que a direção lulista ou petista
possa levar essa luta até as últimas consequências. Por
isso, batalhamos pela construção de uma alternativa social e
política da esquerda socialista construída nas lutas. Defendemos
a realização de um
Encontro Nacional das Classes Trabalhadoras e do Movimento Popular,
com o objetivo de reunir todas as forças anticapitalistas e movimentos
sociais classistas para construir um programa mínimo e uma
articulação política que possa colocar os trabalhadores e
a juventude em movimento no sentido das transformações sociais.
A saída que propomos é o caminho da luta dos trabalhadores e
trabalhadoras, da juventude e de todo o povo pobre e oprimido desse país
pelo Fora Temer, contra o ajuste fiscal e os ataques contra os trabalhadores e
por transformações sociais e políticas em nosso
País. Nessa luta são os trabalhadores e o povo quem devem decidir
os rumos do país, inclusive quem deve governar, e construir uma
saída pela esquerda, fazendo com que os ricos paguem pela crise.
Uma saída pela esquerda para a crise passa necessariamente pela
auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública aos
grandes especuladores e uma maior tributação sobre as grandes
fortunas. Junto com isso também defendemos o controle público
sobre o sistema financeiro. Medidas como essas serão necessárias
para que se possa financiar os serviços públicos de qualidade,
garantir o direito a uma aposentadoria digna, a ampliação dos
direitos sociais e o desenvolvimento do país a partir de uma
lógica social e ambientalmente adequada às necessidades da nossa
classe. Também é preciso revolucionar esse sistema
político falido e apostar na radicalização da democracia
com base no poder popular.
Além dessas lutas, estamos pela defesa dos direitos trabalhistas e
reprodutivos das mulheres, garantia de serviços de saúde,
educação, transporte e moradia às mulheres pobre e negras.
Defendemos as lutas LGTBs contra o retrocesso e o reconhecimento do nome social
aos transexuais. Da mesma forma, lutaremos contra qualquer tipo de
opressão (machismo, racismo, LGTBfobia).
Se a crise e os ataques aos direitos são internacionais, uma
saída pela esquerda no Brasil deve articular-se com a resistência
e luta internacional da classe trabalhadora contra o capitalismo, em particular
na América Latina. Todas essas lutas e ações têm que
estar a serviço da estratégia pela revolução
socialista.
Participamos como Bloco da Esquerda Socialista da manifestação de
31 de julho em São Paulo convocada pela Frente Povo Sem Medo e esperamos
que essa manifestação possa representar uma nova etapa da luta
contra Temer e sua política antipopular, onde uma posição
independente do que foi o petismo e lulismo possa dar o tom e fazer
a luta avançar.
As organizações, movimentos e militantes do Bloco da Esquerda
Socialista, também se insurgem contra o atual estado de coisas no campo
da própria esquerda socialista. O nível de
fragmentação e sectarismo presentes no último
período tem inviabilizado a construção de alternativas de
esquerda viável no país. Mas essa situação
começa a se modificar por iniciativas como as nossas, entre outras que
ocorrem nacionalmente. Essas iniciativas unificadoras representam um
avanço importante na luta de nosso povo e precisam estar cada vez mais
coordenadas e unificadas.
Apesar das contradições presentes, o cenário atual
é mais propício à unidade da esquerda socialista.
Pressões oportunistas e sectárias continuam existindo, mas
estamos em meio a um importante processo de reorganização e
recomposição da esquerda socialista. Muitos setores estão
tirando conclusões da intensa experiência das lutas e debates
desde as jornadas massivas de junho de 2013, o ascenso das greves e
ocupações do movimento popular, a primavera das lutas das
mulheres e LGBTs, as ocupações de escolas por parte da juventude,
a luta contra a direita nas ruas, passando pelo processo de impeachment e as
lutas atuais pelo Fora Temer.
É nosso papel fortalecer os pilares políticos e
programáticos, anticapitalistas, classistas e socialistas e as
práticas democráticas, solidárias, de
colaboração e unidade entre as forças da esquerda
socialista. Como continuidade de nosso processo de reorganização,
propomos a realização de um Encontro nacional de todas as frentes
e blocos da esquerda socialista que se organizaram em vários estados nos
últimos tempos.
No Seminário que acabamos de realizar fortalecemos nossas bases comuns e
aprendemos um pouco mais a lidar com as diferenças, sem
escondê-las ou subestimá-las, mas tratando-as de forma
proporcional a sua importância real. Ainda temos um longo caminho pela
frente, mas estamos em melhores condições para avançar.
Por isso, chamamos a todos lutadores e lutadoras, organizações
políticas, movimento sindical e popular e os coletivos que se inspiram
nos mesmos ideais de luta e unidade da esquerda socialista para que se somem
à construção das bases para uma verdadeira alternativa de
esquerda socialista.
São Paulo, 13 de agosto de 2016.
O original encontra-se em
pcb.org.br/portal2/11866
Esta declaração encontra-se em
http://resistir.info/
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